terça-feira, 9 de outubro de 2007

El Che

Faz hoje 40 anos que El Comandante, Che Guevara, morreu, executado por um comando de rangers bolivianos treinados pelos americanos para perseguir e executar o guerrilheiro, como aconteceu. Em 1967, nos EUA era presidente Lyndon B. Johnson.

O relato da sua morte, em directo e pelo seu executor, fica por aqui, em facsimile, tirado da revista L´Express, de 27.9.2007.

A primeira vez que ouvi falar da morte do Che, foi na revista Selecções do Reader´s Digest, no final dos anos sessenta. O relato impressionou-me logo pela perspectiva do vencedor, os americanos, directamente envolvidos e as fotos não enganavam, porque houve o cuidado de fotografar o morto, para o mostrar ao mundo e tentar acabar com o mito. Engano. Começou aí mesmo.

Em 5 de Março de 1960, um repórter fotográfico do jornal cubano Revolución, tirava a chapa que serviria de poster para ser tirado aos milhões, como estandarte do mito Che Guevara, El Comandante.

Esse poster, correu mundo e em Portugal, depois de 1974, foi afixado em muitas paredes. Também tive um, afixado na parede. Porquê?

Porque Che Guevara, esquerdista e revolucionário, incarnava ainda um espírito de aventura, na época. Uma libertação individual e uma imagem apelativa ao empenho social e político, generoso e altruista. Romântico até, porque apresentado como um cavaleiro andante da libertação de gentes pobres e humildes. Um Robin dos Bosques moderno. Um cavalheiro da pureza revolucionária.

Por outro lado, o comunismo em 1975, em Portugal, era uma força dominante e o espírito de PREC contagiava muita gente que ainda assim, nada tinha a ver com projectos revolucionários de deposição do sistema político-social, pela democracia popular.

Para além da propaganda e da linguagem completamente dominada pela esquerda, ninguém falava publicamente nos crimes do comunismo. Crimes, só os do “fascismo”, propalados, aliás, sem corpo de delito. Os antifascistas não cometiam crimes e a denúncia da barbárie estalinista surge bem depois e com força apenas no final dos anos oitenta.

As revelações sobre os crimes do comunismo surgem nessa altura e ainda agora falam e escrevem. Entretanto, o mito do Che, arreigara-se já, bem firme, às paredes e muros, no poster estilizado de Korda.

Ainda há meia dúzia de anos, num filme bem feito tirado do livro Viagens de motocicleta, a figura do Che, é apresentada de modo edulcorado e mistificado. É impossível não simpatizar com a figura do El Comandante avant la lettre e por extensão, do Che.

E no entanto, Che Guevara falhou em toda a linha política. O comunismo porque lutou, soçobrou e em nenhum dos lugares por onde andou e lutou, o sistema marxista conseguiu implantar um exemplo de sociedade apresentável ao mundo.

E ainda assim, a imagem perdura. Será um retrato de realismo autêntico ou apenas fantástico?

Pelo que se pode ler ultimamente, a opção é pela perplexidade. Um livro recente, La face cachée du Che, de Jacobo Machover, é uma das publicações de denúncia.

A revista L´Express, de 27.9.2007, foi entrevistar os companheiro do Che, actualmente exilados em Miami e outros lugares. “As suas narrativas provocam frio nas costas”. Porquê?

Segundo um deles, Huber Matos, um dos comandantes da revolução, preso em 1959, por ter criticado os excessos revolucionários, nem hesita: "Acho,definitivamente, que lhe agradava matar gente." As pequenas histórias que alguns deles contam, são efectivamente o reverso do poster romântico do esquerdismo militante.

Che Guevara, lidou com a morte, na prisão de Cabana, para onde foi como comandante do presídio, nomeado por Fidel Castro, em 1959. Às centenas, os presos são enviados ao paredón e muitas das execuções sumárias de pretensos contra-revolucionários, são da própria autoria do Che, num exercício de crueldade testemunhado pelos antigos companheiros. Contam-se em número superior a 200 essas execuções, o que faz do Che, um dos maiores matadores da Revolução, um pouco atrás do actual líder de Cuba, Raul Castro, responsável por mais do dobro das mortes.

Luciano Medina, impedido do Comandante, também exilado: " Matava como quem bebia um copo de água. Nós, a tropa, ficávamos descoroçoados".

Na reportagem ainda há o relato de uma entrevista com Felix Rodrigues, o antigo agente da CIA que prendeu o Che e o mandou directamente fuzilar, sob ordens superiores e de quem ouviu as últimas palavras: "Diz à minha mulher que volte a casar e tente ser feliz".

Aleida, parece que seguiu a recomendação e publica este ano as suas memórias.














2 comentários:

MARIA disse...

Olá José, como está?
Che Guevara é uma figura histórica que me impressiona, francamente.
O José pelo seu modo de ser e estar, pelos seus valores, por tudo o que sabe, constitui também um herói dos dias de hoje, para o meu imaginário.
Passo para lhe dizer isso e despedir-me de si.
Terei de afastar-me algum tempo da blogosfera. Para onde vou não terei computador.
Felicidades para todas as Lojas e para si , em particular, um beijinho da
Maria
(Obrigada pelas coisas que me ensinou, partilhando a sua sabedoria nos blogs.)

josé disse...

Obrigado, Maria. Boa sorte,para si.